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1.Como pessoas introvertidas podem se destacar na comunicação

Você já percebeu como o silêncio pode ser tão poderoso quanto a palavra? Em um mundo onde falar alto e rápido é frequentemente confundido com autoridade, aqueles que preferem a reflexão antes da expressão muitas vezes são subestimados.

Mas e se a pausa, escuta e profundidade fossem verdadeiras forças da comunicação que potencializam introvertidos como oradores?

Antes, o que significa ser introvertido?

 

Ser introvertido não significa ser tímido ou antissocial. Introversão está mais ligada à forma como processamos informações e interagimos com o mundo.

Pessoas introvertidas tendem a recarregar a energia em momentos de solitude, são mais reflexivas e preferem interações profundas a trocas superficiais. Isso quer dizer que um introvertido não pode ser um bom comunicador? Pelo contrário. Muitas das habilidades que fazem um grande orador já estão naturalmente presentes nesse perfil.

De acordo com uma pesquisa amostral, feita pelo MBTI® em 2020, que mapeia pessoas pelo mundo todo, cerca de 56,8% da população mundial se identifica como introvertida. Nos ambientes corporativos, estima-se que mais de 40% dos executivos de alto desempenho sejam introvertidos, desmistificando a ideia de que apenas extrovertidos alcançam o sucesso.

A falsa dicotomia: somos um lado ou os dois?

Ninguém é 100% introvertido ou extrovertido o tempo todo. Mas para te ajudar a entender com qual “lado” você mais se identifica, pode começar se perguntando em quais situações se sente mais energizado. Normalmente prefere encontros individuais a grandes reuniões? Costuma pensar bastante antes de falar? Ou, ao contrário, sente necessidade de verbalizar suas ideias para organizá-las melhor? Essas pode ser pistas de onde você se encontra nesse espectro. Ou pelo menos como você se sente mais confortável. Conseguiu se identificar? Se ainda não, continua lendo que vamos descrever mais dos dois estilos.

Entendendo os pontos fortes da introversão: 

Se você se identifica com um perfil mais introvertido, pode achar que não e até não reconhecer, mas já possui certas habilidades interessantes para falar em público. A preparação detalhada é uma delas e é fundamental no processo de desenvolver uma comunicação assertiva. Por não se sentirem tão a vontade no palco, muitas pessoas introvertidas costumam pensar no objetivo e estruturar seus pensamentos antes de falar, o que torna suas apresentações mais organizadas e relevantes. Essa capacidade prévia de refletir profundamente sobre o tema contribui para argumentos sólidos e bem fundamentados.

Além disso, esse perfil frequentemente se destaca também pela escuta ativa, pois sua observação constante faz com que percebam nuances na audiência. Essa percepção é extremamente útil na hora de adaptar sua mensagem para engajar o público. Eles tendem a captar reações sutis que outros poderiam perder e com prática isso os permite ajustes em tempo real para manter a conexão com quem estiver ouvindo.

Outro ponto que é interessante de observar é a autenticidade. Em vez de depender de carisma explosivo, pessoas introvertidas costumam se conectar de forma genuína, conquistando a confiança da plateia por meio de uma presença que, embora mais contida, transmite sinceridade e profundidade. Há uma preocupação genuína com a mensagem que vão passar e um foco na clareza e conteúdo, em vez de recorrer a artifícios puramente chamativos, o que ajuda a torna suas falas impactantes.

O que pode atrapalhar – e como contornar

Mesmo com essas vantagens, existem desafios que podem surgir na hora de falar em público:

- A autocrítica excessiva: pessoas que se consideram introvertidas, podem cultivar a crença de que não falam bem em público e tender a analisar cada detalhe da própria performance, se julgando assim com mais rigor. Mas é importante lembrar que o público não espera perfeição, e sim conexão. Em vez de buscar um desempenho impecável, foque na autenticidade da sua mensagem. Aqui é importante incluir também um exercício chamado “Talk back” (Falar de volta) com essas vozes da autocrítica que aparecem constantemente na mente.

- A exaustão após interações intensas: Para evitar esse desgaste, é importante planejar momentos de recuperação de energia antes e depois da apresentação. Pequenos intervalos de 5-10 minutos para respirar e ficar em silêncio fazem a diferença.

- A resistência ao improviso: Se a falta de controle sobre o que será dito gerar insegurança, é possível treinar através de exercícios como fazer perguntas espontâneas ou aprender técnicas de improvisação. Ambos são ótimos aliados para desenvolver essa flexibilidade.

- A expressividade contida: Introvertidos podem tender a falar de forma linear, sem variações de tom ou gestos. Para evitar que a mensagem soe monótona, vale treinar entonação e prestar atenção na linguagem corporal.

- Nesse cenário, a pausa e a presença podem ser grandes aliados -

Vivemos em um mundo onde falar alto e rápido muitas vezes é confundido com autoridade e confiança. Mas será que precisamos seguir esse ritmo acelerado para sermos ouvidos?

Grandes oradores, independentemente do perfil, sabem que o silêncio pode ser tão poderoso quanto a palavra. Uma pausa bem colocada cria suspense, dá espaço para a audiência refletir e reforça a mensagem. O perfil mais introvertido, por natureza, já entende esse tempo – basta confiar nele e cuidar para não durar tempo demais.

Em estudo do artigo “Disrupting the flow: How brief silences in group conversations affect social needs” chegou-se a conclusão que o tempo máximo de silêncio, para não gerar desconforto em uma conversa, é 4 segundos. Aproveite agora e conte até 3 segundos. Veja como se sente. Agora repita o exercício até 4seg. Tente de novo com 5seg. Como é a sensação? Perceba quanto tempo cabe nesse tempo. Para algumas culturas 4 segundos pode ser tempo demais, para outras como o Japão a tolerância é maior. Mas voltando ao nosso tópico de comunicação uma boa pausa, para enfatizar a mensagem deve ter entre 2 e 3 segundos. Assim, é possível abrir espaço para o público ou pessoa, absorver a ideia que está sendo compartilhada.

 

Respiração, Silêncio e Impacto Vocal

Muitos oradores experientes utilizam técnicas de ancoragem, que é tocar em algum objeto para trazer a mente e o foco para o aqui e agora, não apenas para retornar ao presente, mas também para lembrar de respirar adequadamente. Afinal, quando estamos tensos, tendemos inconscientemente a prender a respiração, o que afeta diretamente o tom e a velocidade da nossa voz. Com a respiração regularizada e a mente focada, você pode então se permitir fazer perguntas retóricas seguidas de momentos calculados de silêncio, criando um espaço que convida naturalmente o público à uma reflexão. Barack Obama, conhecido por seu estilo reflexivo e medido, exemplifica perfeitamente o poder do silêncio calculado. Em seus discursos mais importantes, ele frequentemente faz pausas de 2 a 3 segundos após pontos cruciais, permitindo que suas palavras ressoem antes de continuar. Como ele mesmo observou: "O silêncio é frequentemente mais eloquente que as palavras. Às vezes, é na pausa que encontramos nossa voz mais autêntica."

E o que pode ser aprendido com o lado extrovertido?

Se os introvertidos têm muito a ensinar sobre pausa, profundidade e escuta ativa, os extrovertidos, por outro lado, trazem energia, espontaneidade e facilidade de adaptação ao momento.

O ideal não é definir quem se comunica melhor, mas aprender com os dois estilos. Um extrovertido pode se beneficiar ao incorporar mais momentos de reflexão e planejamento em suas apresentações. Já um introvertido pode ganhar mais confiança ao treinar improviso e desenvolver sua presença no palco.

Comunicação é uma dança entre expressão e recepção, e cada um pode se inspirar no outro para portencializar a mensagem que quer passar,

 

Para continuar explorando

Se você quer aprofundar ainda mais esse tema, vale a pena conferir:

  • "Quiet: O poder dos introvertidos em um mundo que não para de falar", de Susan Cain, que explora a força desse perfil na comunicação e nos negócios.

  • Técnicas de storytelling de Carmine Gallo, autor de "Talk Like TED", que ensina como estruturar narrativas envolventes.

  • Palestras do TED, como "The Power of Introverts", da própria Susan Cain, que teve mais de 30 milhões de visualizações.

No fim, falar bem em público não tem a ver com personalidade – tem a ver com conhecer seu próprio ritmo, aprimorar técnicas e usá-las a seu favor. A comunicação eficaz não pertence a um perfil específico - ela pertence àqueles que aprendem a transformar suas características naturais em forças.

 

Referências:

*https://www.themyersbriggs.com/en-US/Connect-With-Us/Blog/world-introvert-day-2020

*https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S002210311000274X

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