4. Como manter a energia em longas conversas?
Estar presente em conversas longas não é sobre ter mais tempo — é sobre saber gerir sua energia física, mental e emocional. Neste artigo, exploramos por que nos desconectamos com facilidade e como manter a atenção viva mesmo em interações desafiadoras. Com base na neurociência, práticas simples e perguntas estratégicas, o texto propõe um novo olhar para a presença como competência relacional. Um convite a treinar a escuta, o ritmo e a intenção em cada conversa.
Você já viveu aquela reunião de uma hora que parecia ter durado três? Ou saiu de uma conversa importante sentindo que esteve fisicamente presente, mas mentalmente em mil outros lugares? Se sim, você não está só — e provavelmente o problema não foi falta de atenção, mas sim má gestão de energia.
Nosso desafio não é apenas prestar atenção. É sustentar presença real em interações prolongadas, onde a mente naturalmente tende a dispersar, o corpo a se inquietar e a energia a oscilar. Neste artigo, vamos explorar por que isso acontece e como é possível desenvolver estratégias reais de gestão de energia relacional — uma habilidade essencial para qualquer pessoa que lidera, influencia ou simplesmente convive com outras pessoas.
A ilusão da gestão do tempo
Quando falamos em produtividade ou performance em conversas, a primeira tentação é pensar em “gestão do tempo”. Mas tempo, por si só, é neutro. Ter uma hora para uma conversa não significa que estaremos disponíveis de verdade durante aqueles 60 minutos.
É a energia que define a qualidade da nossa presença.
A revista Harvard Business Review já apontou que líderes que gerenciam bem sua energia — e não apenas o tempo — são mais produtivos, empáticos e eficazes. Porque, no fundo, estar presente é menos sobre quanto tempo temos, e mais sobre como usamos o que temos internamente: atenção, clareza, escuta e disposição emocional.
Neurociência da presença: como o cérebro se comporta em conversas longas
O cérebro humano foi feito para sobreviver, não para ficar 2 horas focado na mesma coisa. Segundo o neurocientista John Medina, autor de Brain Rules, nosso nível de atenção plena costuma durar cerca de 10 minutos por bloco. Depois disso, a tendência é que a mente comece a vagar — especialmente se a conversa for monótona, sem pausas ou sem significado claro. Claro que muitos estudos diferentes aparecem sobre esse tempo, mas o que importa é lembrar que nossa mente não sustenta por muito tempo a atenção. Principalmente nos dias de hoje!
Além disso, quando estamos em interações que exigem escuta ativa e regulação emocional — como conversas difíceis, feedbacks ou apresentações — nosso sistema nervoso entra em estado de alerta leve. Isso consome energia cognitiva e emocional rapidamente.
Por isso, muitas pessoas saem de reuniões exaustas sem nem entender o porquê. Estar presente demanda energia mental, autocontrole emocional e, em muitos casos, energia física também.
Três níveis de energia em conversas
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Energia física:
Está relacionada ao corpo, postura, cansaço, sono e até respiração. Um corpo tenso ou cansado afeta diretamente a presença.
Dica: se alongar antes de uma conversa importante, hidratar-se e ajustar a respiração ajuda a manter presença. -
Energia mental:
Capacidade de manter foco, organizar raciocínio e escutar com atenção.
Dica: evitar multitarefas, usar anotações simples e fazer pausas estratégicas ajuda a preservar foco ao longo da conversa. -
Energia emocional:
Sustentar empatia, lidar com reações alheias e com as próprias emoções.
Dica: preparar-se emocionalmente antes de conversas sensíveis (visualização, respiração ou escrita prévia) ajuda a manter-se equilibrado.
Exemplos reais: onde a energia escapa
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Em uma reunião de equipe onde o líder fala 90% do tempo, e os demais se tornam ouvintes passivos.
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Em conversas difíceis, onde o desconforto emocional drena a energia antes mesmo que o assunto central venha à tona.
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Em processos de escuta onde a mente começa a julgar, comparar ou se distrair com pensamentos paralelos.
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Em apresentações longas, onde o orador não lê o ambiente nem faz pausas para envolvimento ou conexão.
Esses são momentos clássicos em que a energia se esvai — e a presença junto com ela.
Práticas para manter a presença viva em conversas longas
Aqui vão técnicas simples e eficazes que ajudam a sustentar a presença ao longo do tempo:
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Presença, não corra para conversar:
Se você entra em uma reunião logo após outra, sem tempo para transição, seu cérebro ainda está na conversa anterior. Reserve dois minutos de silêncio, respiração ou até uma música para “chegar”. -
Tenha um propósito claro para a conversa:
O cérebro precisa entender o porquê. Quando você sabe o objetivo daquela interação, é mais fácil se engajar e manter o foco. -
Traga o corpo para a conversa:
Varie o tom de voz, movimente o corpo, respire fundo. O corpo presente ajuda a mente a acompanhar. -
Crie micro pausas conscientes:
Um silêncio de 3 segundos pode ser mais poderoso do que uma sequência de falas. Pausas ajudam você a reorganizar a energia — e o outro também. -
Use perguntas para ativar o outro:
Quando só uma pessoa fala por muito tempo, a energia da conversa cai. Perguntas sinceras e pausas para escuta renovam o fluxo relacional.
Presença é uma escolha, e uma prática
Estar presente não é um dom — é uma disciplina. E, como toda prática humana, ela começa na intenção: “eu quero estar aqui, com essa pessoa, neste momento”. A partir daí, entra o treino: respiração, escuta, pausa, conexão.
Manter o foco nem sempre depende de quem está falando — muitas vezes, depende da qualidade da escuta que você escolhe cultivar. Essas perguntas funcionam como âncoras internas para voltar ao momento presente:
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“O que essa pessoa realmente está tentando me dizer?”
Ajuda a ir além das palavras e captar a intenção, emoção ou necessidade por trás da fala. -
“O que eu ainda não entendi totalmente aqui?”
Ativa a escuta curiosa e impede que você caia no piloto automático de “já saquei tudo”. -
“Como essa conversa se conecta com algo que importa pra mim?”
Vincular o assunto à sua realidade aumenta o engajamento e a retenção. -
“Como posso contribuir com essa troca de forma genuína?”
Estimula presença ativa e colaboração, mesmo quando você não está falando. -
“Essa pessoa está se sentindo ouvida por mim agora?”
Traz consciência relacional e empática, mantendo você conectado não só com o conteúdo, mas com o outro.
Estimular a curiosidade sobre a mensagem, sobre o outro e sobre o que está acontecendo dentro de você pode ser a chave para garantir a presença e escuta tão importantes para sustentar a energia! Caso ela caia demais, lembre-se que sempre pode comunicar e pedir uma pausa para a pessoa a sua frente, explicando que deseja estar com a atenção 100% naquele momento, mas que precisa tomar uma água para restaurar o foco. Com certeza a pessoa se sentirá respeitada e perceberá seu interesse e preocupação com ela e com o que ela tem para dizer!
Para aprofundar:
Manage Your Energy, Not Your Time - Harvard Business Review
We don’t pay attention to boring things - Brain Rule